“ E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” ( Romanos 12:2).

quinta-feira, agosto 08, 2013

Envelhecimento ativo: um divisor de gestões


 Por Keli Vasconcelos

Imagine viver (somente) 30 anos. Impossível? Pois era essa a expectativa de vida do brasileiro em 1900. “Se uma pessoa passasse dos 33 anos naquela época era sorte. Hoje temos uma realidade totalmente diferente, graças, em especial, ao acesso às tecnologias em diversas áreas, como a da Saúde e Fármacos. O aumento da expectativa de vida é uma conquista, mas a questão não é apenas viver mais. É preciso ter qualidade”, comenta Renato Veras, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UnATI - UERJ).

O Brasil, atualmente, conta com 20 milhões de idosos, o que corresponde a aproximadamente 10% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até 2020, essa fatia da população deve corresponder a 32 milhões, alcançando o sexto lugar no ranking mundial. A expectativa média de vida ao nascer é 73,1 anos, sendo 69,4 aos homens e 77 às mulheres (IBGE/SEADE 2010).

O perfil do envelhecimento também passou por mudanças, com cidadãos que prezam cada vez mais por itens como autonomia, alimentação saudável, atividade física, bem-estar, utilização de novos recursos tecnológicos e, principalmente, a qualidade de vida. Isso foi evidente no Censo 2000 do IBGE, que já identificava que os brasileiros com mais de 60 anos são responsáveis economicamente por 62,4% dos domicílios.

No setor da Saúde há 10.193.780 beneficiários de planos com 50 anos ou mais no país, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Na população há 40,2 milhões com 50 ou mais anos de idade, equivalentes a 20,4% do total. Assim pode-se dizer que 30 milhões de brasileiros são dependentes exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS)”, enumera o diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) José Cechin. “As pessoas que possuem um plano de saúde têm tanto direito de acesso ao SUS quanto os demais e, portanto, o sistema deve ser dimensionado para ter capacidade de atender a demanda, já que é pago pelos impostos de todos. Os beneficiários ao buscarem atendimento na rede privada mesmo preservando o direito ao atendimento pelo SUS desoneram esse sistema público”, acrescenta Cechin.

O grande desafio não está apenas no atendimento ao paciente, seja na Saúde Suplementar, Pública ou Privada, mas em fomentar e promover programas de promoção e prevenção à população, bem como o gerenciamento de doenças crônicas, explica Veras, da UnATI – UERJ, que além de médico, é autor dos livros País Jovem com Cabelos Brancos e Gestão Contemporânea em Saúde.“O grande problema é que nosso envelhecimento é ainda recente. As políticas públicas, leis e estatutos destinados aos idosos no Brasil são muito recentes em relação à Europa, Japão e Estados Unidos, que ocorrem há muito mais tempo e são mais estabelecidas”.

O atendimento ao público idoso crescente precisa ir muito além do hospital, defende Veras. “Vale lembrar que quando a pessoa recorre ao hospital é porque já está doente. Por isso, deve-se prevenir doenças que surgem no decorrer dos anos. Não adianta tratar só quando está já instalada, pois ela será crônica e gerará mais custos. É necessário tratar e monitorar a pessoa desde cedo, com políticas de promoção e prevenção à Saúde com foco na qualidade de vida”, salienta o professor, destacando que entre os idosos, oito em cada 10 possuem pelo menos uma doença crônica.

Já para José Cechin, com o envelhecimento da população brasileira e, consequentemente, com o aumento da incidência de doenças crônicas, os gastos com saúde tendem a subir em toda sua esfera (sistema privado de planos de saúde e sistema público). Seu enfrentamento está na adoção de hábitos saudáveis, destacando que a oferta de programas de promoção e prevenção por parte das operadoras cresceu, chegando a 400% - de agosto de 2011 até o momento.

Existem mais de 560 programas informados junto à ANS com a projeção de participação de um milhão de beneficiários, ressalta ele. “Outro caminho é o da previdência: poupar durante a vida de trabalho para ter capital acumulado, em que retirará recursos para custear o plano de saúde na aposentadoria, quando as rendas ficam bem menores que durante a vida ativa”, indica o diretor-executivo da FenaSaúde.

Mesmo com a promoção de programas de prevenção de doenças como obesidade, tabagismo, diabetes, entre outras enfermidades crônicas, a qualificação profissional é um ponto que precisa ser explorado para que essas ações, efetivamente, deem certo, aponta Renato Veras. “Temos profissionais com muita boa vontade, mas pouquíssima competência para tratar da promoção e prevenção à Saúde. Isso porque ainda há um pensamento que essa política é algo desnecessário, ilustrativo ou de diversão. O que é totalmente errôneo. Você vê muitas empresas que querem implantar essa política aos funcionários, mas não tem preparo. Em geral, contrata-se um consultor que não tem essa vivência e resultado é, infelizmente, pequeno”, ilustra o médico.

Formar, estruturar e qualificar equipes multidisciplinares, investir e dar atenção aos setores de geriatria e gerontologia, fomentar pesquisas e estudos direcionados e o amadurecimento das políticas e estatutos são alguns dos itens listados pelos especialistas para auxiliar profissionais, gestores, governantes e também o público, garantindo assim um envelhecimento ativo e pleno. Mas para que tudo deslanche de forma correta, inicia-se em uma palavra: planejamento.
Fonte: Revista Saúde S/A


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